17 de mai. de 2010

1

Mel veio saboroso, se arrastando garganta a dentro. Queimando de leve junto com a saliva do doce tocando a língua. Depois veio a sede e a água varrendo o gosto do néctar e deixando a boca como um sopro de inverno.
Abre de novo a geladeira pra pensar (e quem não o faz?). Escolhe, entre potes de arroz de domingo, suco de laranja vencido e restinho de requeijão, um pedaço de melancia.
Era o último, já meio ressecado. E come como se estivesse gostoso, por desejar que assim o fosse. Acreditando que as coisas mudam de acordo com o que a gente gostaria.
Cospe os caroços num pote e engole uns por pura preguiça. Come até o rosa esbranquiçado, até a parte mais sem graça, daquele pedaço sem graça.
Quando foi jogar os restos na lixeira da cozinha, deixou seu pensamento voar pela janela. E enquanto colhia de volta os devaneios que se espalharam pelo denso ar de sua cidade, pensava que sua vida tinha cara de curta-metragem nacional. Riu. Imaginou um piano pesado rolando de fundo e seus pensamentos narrados em off.

* Baseado em fatos irreais
**To be continued

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