21 de jul. de 2014

74

Um dia a fome passou. Achou que era hora de se desfazer de algumas coisas. Resolveu tirar o peso do corpo, da mente e do seu armário que já estava com a prateleira envergada de tanto passado.
Primeiro foi andar. Ia com o dinheiro da passagem pra volta porque a sensação de ir era muito melhor do que a de voltar. Enquanto o corpo eliminava calorias e toxinas, a cabeça estava a mil tentando eliminar a bagagem desnecessária.
Então, foi falar. Duas vezes por semana, num divã onde podia formar desenhos no teto com as sombras que se projetavam como carneirinhos de nuvem no céu.
E por fim, a faxina. Abriu armários e gavetas e foram pilhas e pilhas de papéis, fotos e objetos que não tinham mais porque estarem na sua vida. Ficou cansada, espirrando com a poeira, joelhos vermelhos de tanto tempo agachada.
A prateleira continuou envergada, visto que tem coisas que não tem conserto. Mas ela descobriu que tinha sim uma maneira de renovar, rejuvenecer e deixar o passado passar.
Depois do banho tomado e do copo de vinho na mão, ela viu debaixo da mesa uma foto deles em Mauá e pensou que o correto seria jogar no lixo, mas ela demorou muito pra se levantar do sofá...

* Baseado em fatos irreais
** To be continued

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